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San Juan & La Rioja: História, identidade e Futuro

24/11/2020 No Comments

… Es oro blanco, dorado vino, Resero blanco Sanjuanino...  A famosa publicidade argentina dos anos setenta não narrava uma história sobre o Malbec de Mendoza. A imagem da TV, em glorioso preto e branco, divulgava um vinho de San Juan, província com tradição vitivinícola do século XVII, e considerada a segunda maior produtora de vinho do país. 

A região de Cuyo, que inclui Mendoza, e concentra 95% do total da área plantada no país, é também a mais prolífica da América do Sul, e uma das mais importantes do mundo. Nesse novo Dossiê, Vinhosargentinos mergulha nos Estados históricos dos vinhos de mesa (San Juan e La Rioja) e aprofunda no desenvolvimento de uma das variedades Criollas mais famosas da Argentina: O Torrontes Riojano. 

Um dos responsáveis pela reinvenção da variedade (em entrevista exclusiva com o blog) explica detalhes da investigação que mudou o rumo da uva Torrontés. “No início, ao tentar melhorar a qualidade da cepa, através da biotecnologia, e utilizando leveduras selecionadas exógenas, encontramos um branco delicado, mas percebíamos que havia perdido sua identidade”, reconhece hoje o professor e Doutor em Enologia, Rodolfo Luis Griguol. “Por que então não, selecionar leveduras nativas que aportam tipicidade e delicadeza ao mesmo tempo?” se perguntou o pesquisador, na época.  

Conforme o Doutor relata no seu depoimento para Vinhosargentinos, após cinco anos de pesquisas, a descoberta de Griguol deu certo. Como ele conseguiu? O renomado enólogo acredita que sua participação em um Posgrado de Biotecnologia na Universidade de Caxias do Sul (RS) lhe brindou maior conhecimento para reinventar o Torrontés. 

“No Brasil, eu aprendi ferramentas para realizar um isolamento e uma caracterização da levedura. Conseguimos obter uma levedura ‘ecotipica’ para o Torrontés Riojano. Isso nós trouxe, finalmente, um vinho delicado, elegante, e com sua identidade e características típicas mantidas. A partir dali, saímos ao mundo com um Torrontés diferente, de vários estilos: Básicos, Reserva, de colheita tardia e até espumantes”, afirma Rodolfo, que há vinte e cinco anos trabalha na Cooperativa La Riojana, fundada em 1940, e localizada no Vale de Famantina (IG).

Seguindo o mapa de La Rioja, o viticultor Matias Tomas Prieto, enólogo da vinícola Chañarmuyo, (1.700 metros de altura) apresenta o Vale do Chañarmuyo (IG) como um município “muito pequeno, de apenas duzentos habitantes. 60% deles têm uma relação de trabalho com a vinícola ou na Pousada, aonde nos visitam os turistas. Sentimos orgulho com o compromisso sustentável, neste projeto de vinte anos no mercado. Plantamos Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat, Petit Verdot, Chardonnay, Viognier, Clarete, e um Syrah tão delicado como os rosés da Provence. Além de um espumante pelo Método Tradicional, um produto inovador por aqui” diz Matias, desde o vinhedo riojano.  

A investigação de Vinhosargentinos faz questão de registrar mais uma pérola, dessa vez, na província de San Juan, na pouco divulgada localidade do Barreal (a mais de 200 km da capital sanjuanina) no Vale de Calingasta.

 Cara Sur é um novo empreendimento de quatro jovens amigos amantes da terra e da montanha: Nuria Año Gargiulo, Marcela Manini, Pancho Bugallo e Sebastian Zuccardi. Eles encaram um ambicioso desafio no resgate de vinhedos históricos e com técnicas de elaboração ancestral.

“O nosso trabalho se concentra na vinha e na viticultura tradicional, sem uso de agroquímicos – afirma Pancho Bugallo a Vinhosargentinos- Cultivamos de forma natural vinhas antigas e variedades ancestrais, algumas delas Criollas, e outras europeias. Todos nossos vinhos contém peles, entre eles, o torrontes sanjuanino e o moscatel blanco”, comenta o viticultor e montanhista, que se sente “focado na comunicação de vinhas patrimoniais e na região do Vale de Calingasta”. 

Segundo a visão do reconhecido viticultor Sebastián Zuccardi, “no futuro, não há lugar para vinhos sem identidade, é por isso que em Cara Sur gostamos de contar uma história da região”. 

“Como estamos em uma zona alta, a mais de 1.500 metros de altura sobre o nível do mar, e nossas variedades Criollas são sensíveis à insolação, utilizamos um sistema de condução horizontal chamado de Parral, com oito fios, que permitem proteger as uvas e vinhas da luminosidade para que as peles não se queimem. Isso ajuda a proteger a fruta de aromas indesejáveis”, completa Pancho. 

San Juan possui cinco Vales com Indicações Geográficas: Calingasta, Tulum, Pedernal, Zonda e Ullúm. O Vale do Pedernal, por exemplo, encontra-se localizado no sul da província (90 km da cidade) entre duas cadeias da pré-cordilheira e protegido por serras. Com clima continental frio, boas amplitudes térmicas e a 1.400 metros de altura, Paula Gonzalez, enóloga da vinícola Pyros Wines, faz uma leitura sobre os solos, que misturam elementos de diferente antiguidade.  

“Eles são franco-arenosos, ricos em rochas calcárias e pederneira, com material rochoso calcário e rochas vulcânicas, tudo isso impacta em vinhos de parcelas que oferecem sua maior expressão do vinhedo. Acredito que o diferencial do Vale do Pedernal é o tipo de solo, formado há mais de 480 milhões de anos sobre um leito marinho. Solos únicos da vitivinicultura argentina, apenas um 7% tem esse tipo de solo no mundo” finaliza Paula.

Diego Graciano

Jornalista e sommelier.

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