A Taça é delas!
Samara Portela é carioca e mora em Buenos Aires há oito anos. Ela estudou na Escola Argentina de Sommelier (EAS) e trabalha na alta gastronomia portenha. “As mulheres ocupam massivamente o mercado de trabalho. Isso foi graças ao trabalho de formiguinha das pioneiras. Detalhe: Ano passado, no concurso de Melhor Sommelier da Argentina, as três finalistas foram mulheres! Entretanto, a rotina dos restaurantes é um espelho do que acontece no âmbito doméstico e social, infelizmente! As mulheres ainda são subestimadas pela única condição de ser mulher. Há abusos e discriminações. Um exemplo para refletir é a questão da maternidade. Algumas mulheres precisam ter a cruel escolha de decidir entre ter filhos ou dar um passo atrás nas suas carreiras, um fato que não acontece com os homens. Se como sociedade a gente não se transformar, as mesmas situações vão continuar se repetindo” opina a sommeliere, em entrevista com o blog vinhosargentinos.
Quem cuida de um dos vinhedos mais famosos da Argentina, em Gualtallary, no alto da montanha, é a engenheira agrônoma Belen Iacono, que há quinze anos trabalha com a família Catena. “Adrianna é um vinhedo desafiador, devido à altitude e aos diferentes solos que apresenta. Temos que saber interpreta-lo, conserva-lo, para que aflore toda sua expressão. O nosso grande desafio é manter o vinhedo sustentável no tempo, através das nossas práticas orgânicas, e tentar não interferir, porque acreditamos na identidade do terroir. Essa expressão do local acaba sendo nítida no sabor de cada um dos nossos vinhos” afirma Belen.
“Sempre me senti respeitada, e eu prefiro que meu sucesso seja uma conquista em equipe. Existe preconceito sim, em uma indústria que durante muitos anos foi comandada por homens -expressa Noelia Torres, a experiente enóloga da vinícola Ruca Malen– Acho que os empresários e operários agora se tocaram, eles sabem o que verdadeiramente importa: A dedicação e a responsabilidade. Nós também carregamos com a casa, os filhos, várias tarefas. Eu tenho o apoio da minha família. Consegui grandes conquistas ao lado dos meus dois filhos lindos” diz Noelia.
“Com dez anos visitei a primeira cantina, mas o vinho começou a ser parte da minha vida sendo um alimento, em casa, quando meu pai iniciou um tratamento médico para cuidar do seu coração” conta emocionada, Agustina Hanna, enóloga da vinícola Nieto Senetiner.
Agustina lembra dos bons momentos de parceria junto a Marcelo Pelleriti, Alejandro Vigil, Michel Rolland e Santiago Mayorga, o seu mestre e amigo. “Quando comecei já havia grandes enólogas que abriram caminhos, demostrando que somos iguais de talentosas para lograr bons vinhos. Entre colegas, não falamos de gêneros. Somos pessoas que compartilhamos a mesma paixão. Degustamos vinhos juntos, nos emocionamos, e ficamos contentes pelo sucesso do outro. El vinho une! Brindo pelo Brasil e por Argentina. Saúde”, celebra Agustina.
“Como mulher, me sinto orgulhosa de representar à indústria -diz Mariana Onofri, proprietária da vinícola Onofri Wines– Na minha profissão de sommeliere teve o prazer de viajar e aprender sobre vinhos do mundo” afirma a diretora de vinhos do The Vines of Mendoza há treze anos.
A partir de 2014, Mariana começou a produzir seus próprios vinhos junto a seu marido. “Mendoza têm um potencial imenso e é tudo de bom poder expressar isso em uma garrafa; convido vocês a descobrirem Alma Gemela e Zenith Nadir” se apresenta, quem assessora a mais de duzentos e cinquenta produtores argentinos.
Pamela Alfonso é engenheira agrónoma, formada em 2005, e há dez anos trabalha para a equipe da Bodega Alta Vista. “Algumas pioneiras fizeram um trabalho duro para que outras mulheres consigamos aportar o nosso valor. Por trás de cada vinho existem professionais apaixonados, sem distinção de género. A diferencia encontra-se na sensibilidade de cada pessoa” opina Pamela.
Belen Sanchez, enóloga da vinícola Gen del Alma, opina que “a mulher tem incidência como consumidora e na hora da compra. Graças à ativa participação feminina, alguns mitos caem, por exemplo, isso que a mulher só bebe vinhos roses e brancos por ter menos concentração” assegura Belen, com uma experiência de mais de dez anos, nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Espanha.
Sofia Elena trabalha como enóloga na região da Patagônia, no município do Trevelin, na província de Chubut. “Em uma indústria que sempre foi comandada pelos homens, sendo mulher, os desafios são maiores, mas também, ao conquista-los, a satisfação pode ser maior ainda. Hoje, a mulher é uma ótima consumidora de vinhos. Me dá prazer conhecer pessoas de outros lugares do mundo, compartilhar degustações com colegas, trabalhar a terra, além de contar com um produto de qualidade”.
A história de Belen Soler Valle mistura duas paixões bem argentinas: Futebol e Vinhos. Belen é sommeliere formada em Gênova, Itália, e proprietária da vinícola Vinos de Potrero. Em 2008, morando na Itália, decidiu comprar junto a seu marido uma finca em Gualtallary, ao pé do vulcão Tupungato, no Vale de Uco, em Mendoza.
O esposo de Belen ganhou a Medalha de Ouro em Atenas 2004, jogou dois Mundiais pela seleção argentina e foi Campeão do Mundo duas vezes pelo Boca Juniors, entre outros títulos, que conquistou na Itália. “Com Nicolás (o ex-jogador Burdisso) somos amantes do vinho e sempre sonhamos em abraçar algo que nos identifique com a nossa terra. Admiro e aprendo com nosso enólogo Bernardo Bossi Bonilla e nosso engenheiro agrônomo, Marcelo Canatella” finaliza a licenciada em comunicação.
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