A Taça é delas!
Empreendedoras, enólogas, winemakers, engenheiras agrónomas, biólogas, pesquisadoras, mulheres do campo, jornalistas, sommelieres. Vinhosargentinos conversou com algumas das mulheres que se destacam no mundo do vinho argentino, e registrou seus depoimentos.
“Para mim não foi nada fácil -reconhece Susana Balbo, considerada a primeira dama do vinho argentino- Lembro com meus vinte e três anos, sendo diretora de uma vinícola em Cafayate (Salta, Argentina) era nova, insegura, só tinha conhecimento científico e o fato de ter me formado com honras, mas carecia de experiência. Os enólogos não me convidavam à comemoração do Dia do Enólogo porque diziam que eu atrapalharia a festa deles por ser mulher! Só queriam que lhes enviasse meus vinhos para eles beberem”, conta a fundadora da Susana Balbo Wines.

“Eu queria saber como degustavam meus vinhos, então, decidi envia-lhes dois rótulos. A única condição era que eles me contassem seus pareceres técnicos. Para um vinho, houve críticas boas, ‘bem feito, com bom final de boca’. Para outro, recebi críticas ferozes, ‘falta madeira, taninos muito secos’. Os comentários foram muito dispares” afirma a vinhosargentinos, quem sonhava com uma carreira de física nuclear, mas se transformou em um dos personagens mais influentes da vitivinicultura argentina.
“Eu fiz uma pegadinha para esses homens -continua sua história a premiada empreendedora- Lhes enviei o mesmo vinho, porém, em duas garrafas de rótulos diferentes. Fui esperta. Queria ver si eram bons degustadores. Não tinha me ganhado o respeito deles pelo talento, mas sim pela minha esperteza. Esse episódio me permitiu participar de um foro com enólogos homens, e posteriormente, me ganhei o respeito pelo talento. Sugestão ás mulheres: não só precisamos mostrar o talento, também uma dose de esperteza” finaliza Susana, a primeira mulher a se tornar enóloga no seu pais (Argentina), em 1981.
“Sem ajuda de ninguém, Susana lhe deu vida nova ao Torrontés, com seu mundialmente conhecido Crios Torrontés, elaborado com estilo mais fresco e uma acidez maior à habitual” elogiou Laura Catena a Susana Balbo, no seu livro Vino Argentino.
Ouro nos Vinhedos
Laura Catena pertence à quarta geração familiar da vinícola Catena Zapata, fundada em 1902 pelo seu bisavô, o italiano Nicola Catena. Com apenas quatorze anos, ela viajou sozinha a Paris, graças à boa vontade da sua mãe Elena e a pesar dos medos do pai. O seu objetivo era estudar o idioma e a história da arte da França.

Formada em Harvard, a medicina é sua outra grande paixão. Entre suas viagens, conheceu a África: Deu aulas em uma escola de Quênia e trabalhou em um hospital senegalês.
Atualmente, a considerada embaixadora do vinho argentino, divide seu tempo sendo diretora geral da Catena Zapata, e como médica, em São Francisco, nos Estados Unidos, país onde mora com seus filhos e seu esposo Daniel, também médico.
“O meu pai conta que o bisavô ficou orgulhoso do legado deixado a seus filhos. Existe uma foto do meu bisavô com seus três filhos homens e três filhas mulheres. Ele falava que deixou um vinhedo e uma cantina a cada filho homem. E para as três mulheres? Um marido! Segundo ele, lhes havia escolhido um bom marido! Eu falei para meu pai, ‘olha, eu arrumei um bom marido, mas você precisa deixa-me também um vinhedo e uma cantina’”, diz bem-humorada, enquanto apresenta um rótulo que produziu junto a sua irmã Adrianna: “Nesse vinho, contamos a história do Malbec, a través dos olhos das mulheres” comenta a fundadora da Catena Institute of Wine.
“No período medieval, lá trás, as mulheres já estavam fazendo vinhos, cultivando, trabalhando a terra com suas famílias. A mulher sempre teve um rol importante na viticultura, só que ninguém falava desse rol” opina Laura, na entrevista exclusiva para o blog vinhosargentinos.
No seu recente livro, Ouro nos Vinhedos, a autora relata histórias ilustradas sobre os vinhedos mais famosos do mundo. Pérolas que dignificam a luta e o pioneirismo feminino. Uma delas, aconteceu na vinícola mais antiga do mundo. O produtor Piro Antinori, comandou a bem-sucedida empresa junto à primeira geração composta por suas três filhas mulheres. “Elas possuem cérebro e paixão” disse orgulhoso Antinori, o pai delas, viticultor da Toscana.
Anne-Claude Leflaive, da mítica vinícola familiar Domaine Leflaive, da Borgonha, na França, têm um capítulo dedicado no livro, chamado “a rainha dos vinhos”. Ela revolucionou os vinhedos ao conseguir transforma-los, após anos de perseverança, para o cultivo biodinâmico.
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