Vinho e comida podem nos fazer atingir uma epifania quando andam bem de mãos dadas. Nesse delicioso “romance” de aromas e sabores, que bebem os que sabem de cozinha? Vinhosargentinos capturou depoimentos exclusivos de alguns Chefs que hoje estão fazendo sucesso em São Paulo, a capital da gastronomia Sul Americana. Na visão do Erick Jacquin, “Brasil também está fazendo vinho bom, mas aqui têm dois problemas: o preconceito e o imposto”.
Um dos cozinheiros mais populares do Brasil nasceu em um pequeno município do centro da França. Depois seguiu para Paris e por lá conquistou clientes de paladares exigentes. Há, exatos, vinte e cinco anos, Erick Jacquin deixou a capital do seu pais (cidade com o maior consumo de vinhos do mundo, segundo relatório da Wines Of Argentina) para se instalar no Brasil. Após uma carreira de altos e baixos em São Paulo, o premiado Chef foi da depressão á fama. Ele conseguiu dar a volta por cima ao receber o chamado do reality show MasterChef Brasil, onde se transformou no jurado mais conhecido do badalado ciclo. Vinhosargentinos conversou com Jacquin sobre suas grandes paixões:
“Eu gosto de comer, da vida boa, de aproveitar o que bom. Gosto de beber um bom vinho, mas isso não significa que precisa ser vinho caro. Para mim, tem que ter preço justo e qualidade. Todo dia bebo uma taça no jantar, junto a minha esposa, ela também adora vinho” conta o chef, que teve até seu sobrenome estampado em um rótulo da famosa região de Bordeaux, na França.
“Na América Latina, há vinhos muito bons -opina o proprietário do restaurante Président- Argentina, por exemplo, é um pais respeitado e bem conhecido no mundo dos vinhos. Parabéns para o vinho argentino! Visitei várias vezes Argentina, fui a restaurantes ótimos em Buenos Aires e Mendoza. Brasil também está fazendo vinho bom, mas aqui têm um problema, é o preconceito! E o imposto, outro inimigo duro” afirma o consultor, que brinda algumas dicas na hora da degustação: “Não fique pensando demais em uma provável harmonização, lógico que se vai beber um vinho com chocolate ou alcachofra, aí muda, mas, principalmente, beba o que você goste! De verdade, beba o que você ama! e beba do jeito que você quiser! Isso, para mim, é o mais importante. A arte do Bon Vivant” recomenda, enquanto aprecia um Cabernet Sauvignon 2016 Alma Negra Reserva, de Mendoza (Tikal, Ernesto Catena): “Excelente vinho, agradável, pode encarar para um menu degustação. Não é muito alcoólico, também não gosto de vinho muito encorpado” avalia o primeiro cozinheiro da América Latina em receber o título de Maître Cuisinier de France (1998), uma alta honraria na gastronomia.
A comovente história do chef Rodrigo Oliveira apresenta capítulos singelos do sertão pernambucano, no vilarejo do Mulungu, onde nasceu seu pai José Oliveira de Almeida. Rodrigo e sua família são protagonistas de uma trajetória inspiradora, de superação, que virou livro: “Mocoto, o pai, o filho e o restaurante”.
Em entrevista com Vinhosargentinos, um dos maiores ícones da gastronomia brasileira, reconhece que sua descoberta pelo vinho chegou pela paixão à comida. “O vinho entrou na minha vida junto com a gastronomia -confessa o proprietário do Mocotó e do Balaio IMS- Não era um hábito em casa consumir vinho, incluso a gente não conhecia o vinho de qualidade. Para mim, foi uma grande descoberta, um belo acontecimento quando conheci melhor o universo do vinho. Ainda hoje me considero um amador, mas eu sou um apreciador. O vinho argentino tem um lugar especial no meu coração. Eu tive o prazer de cozinhar na cidade de Mendoza, conheci aquele Vale encantador, e o evento foi dentro de uma das grandes vinícolas da região, e para um público seleto. Servindo as nossas especialidades para harmonizar com os melhores vinhos da casa. Eu posso até ser obvio e previsível, mas eu adoro o Malbec! E si associo os vinhos da uva Malbec com as carnes argentinas, isso me faz salivar! Eu considero que um bom Malbec com um bom churrasco, para mim, é a combinação perfeita!!”, opina Rodrigo.
Outra craque da cozinha é Viviane Gonçalves, paulista de São José dos Campos, e que acaba de ser eleita Chef do Ano 2020 pela Revista Veja São Paulo, entre outros reconhecimentos. No passado, ela acumulou prêmios no seu restaurante em Pequim, na China, e também na Inglaterra. “Eu bebi vinho pela primeira vez junto a meu pai, que amava e apreciava a bebida. A cada dia, eu venho aprendendo o que vinho realmente é, o que ele me traz. Para mim, é extremamente filosófico, ele traz o pensamento, é um belo companheiro. São muitas uvas, infinidade de regiões. Eu acredito que o vinho une as pessoas. Ele combina e harmoniza com a vida. É uma delícia poder beber sozinha e também degustar com amigos ou em um almoço familiar, acompanhando uma comida saborosa. Vinho é mais do que tudo, vinho é a vida, é introspeção da vida, é o questionamento da vida” filosofa para Vinhosargentinos a sócia do conceituado ChefVivi.
“Ainda não fiz Enoturismo lá, mas eu adoro Argentina! Conheço bastante algumas regiões do pais. Eu tenho lido e visto que alguns viticultores da Patagônia estão produzindo coisas boas, em uma região tão diferente e de clima extremo” finaliza Viviane.
A empreendedora Tássia Magalhaes, paulista de Guaratinguetá, sonhava com a carreira de advocacia, porém, em apenas cinco anos, passou de estagiária de cozinha a dona de restaurante. “Nestes últimos anos, comecei a conhecer melhor os vinhos argentinos. Eu torcia um pouco a nariz com o Malbec, mas hoje sou apaixonada e é uma das minhas uvas prediletas. Recentemente, bebi um vinho que me apaixonei: Cabernet Franc Los Abandonados, de Mendoza (Paso a Paso Wines) Ainda não fui fazer na Argentina uma viagem focada só nos vinhos e conhecer vinícolas, quero fazer o quanto antes! Gostaria muito de visitar Mendoza. O vinho, para mim, é uma paixão enlouquecedora” assegura Tássia, que fez cursos e estágios na Itália, França e Dinamarca.
“Nasci em uma família francesa – comenta Benoit Mathurin, o chef do Esther Rooftop – que gostava de vinho e gastronomia, e como bom francês, o meu pai me fez conhecer apenas os vinhos franceses. Não estávamos muito abertos. Uns seis anos atrás cheguei no Brasil e foi ai que comecei a descobrir os vinhos de América do Sul, especialmente os argentinos. Na época, apreciei melhor os rótulos naturais, orgânicos e biodinâmicos. E descobri, em uma viagem para Buenos Aires, grandes rótulos em restaurantes, e devo admitir que eu gostei. Tudo mundo fala do Malbec argentino, mas eu gosto da variedade Bonarda, Cabernet Franc, de um bom Torrontés, um bom Pedro Ximenes” diz o renomado cozinheiro, que gerencia seu restaurante Esther Rooftop no andar décimo primeiro de um local histórico: O primeiro edifício modernista de São Paulo.
Para o experiente Luciano Nardelli, da conceituada pizzaria Carlos, o vinho também faz parte da sua cultura familiar. Natural da Argentina, província de Córdoba, ele mora em São Paulo há vinte anos, e já trabalhou junto aos consagrados chefs Ferran Adriá, Alex Atala e Francis Mallmann. “Lembro meu pai fazendo o churrasco com os amigos e beber vinho tinto. Não tenho uma uva preferida, mas eu gosto muito dos vinhos argentinos, especialmente de Mendoza e de Salta, duas regiões que aprecio bastante, e conheço bem porque fiz Enoturismo lá”.
No Comments