O vinho argentino melhor avaliado do ano foi um Malbec de Mendoza ou um Torrontés de Cafayate? A uva emblemática ou a única cepa autóctone? Pois é… Um lote especial do Tannat 2018 produzido pela vinícola Colomé no Vale Calchaquí, conquistou a Medalha de Ouro (98 pontos) na prestigiosa Decanter Wine World Awards 2020. Mais um motivo de orgulho para a província de Salta, la linda! sobre uma variedade (Tannat) que se cultiva há 150 anos na região e têm um grande potencial.
Vinhosargentinos, que já tinha registrado (de forma exclusiva) um dos vinhedos mais austrais do planeta, no Dossiê Patagônia, hoje viaja do clima rigoroso do Sul até a extrema altura do Norte, para entrevistar especialistas renomados da região NOA (Noroeste Argentino). O blog chegou até o ponto mais alto da Quebrada de Humahuaca, na província de Jujuy. Aos 3.329 metros de altura sobre o nível do mar, encontra-se o vinhedo considerado, para alguns, o “mais alto do mundo”. Há publicações que confirmam essa versão. Entretanto, segundo apuração do Vinhosargentinos, existe um vinhedo ainda mais elevado que o argentino, localizado no Tibete.
“A vitivinicultura de extrema altura é um grande desafio, com uma alta concentração de valores para o mundo conhecer. É bastante difícil, mas vamos em frente! – afirma Claudio Zucchino, enólogo do vinhedo mais alto de América – Produzimos com sistema de rego de precisão. Há uma água maravilhosa, que impacta na qualidade das uvas, ajudada pelo clima, a bela amplitude térmica e pela exigência permanente que nós temos com granizo, geladas, pássaros, ventos, etc.”, diz o responsável pela Bodega Zucchino, que recomenda a visita turística pelo seu vinhedo orgânico de Moya, e faz o convite para degustar seu vinho Uraqui, de apenas cinco mil garrafas por ano. Zucchino comenta orgulhoso sobre uma cava que ele acondicionou com mil garrafas, em uma antiga mina abandonada que fica a mais de 3.600 metros. Para subir até lá, só consegue em companhia de uma caravana de lhamas.
Sobre o pequeno Vale, declarado Patrimonio Natural e Cultural da Humanidade, o engenheiro agrônomo Ezequiel Bellone explica que a Quebrada de Humahuaca é “uma região nova, com menos de dezoito anos de vitivinicultura, e uma alta radiação solar. O principal fator de influência é sua altura. As variedades mais importantes são Malbec (a mais cultivada), Sirah, Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Torrontes e Sauvignon Blanc. Os vinhos são escuros, de cor intensa, com bastante corpo, aromas expressivos, e uma acidez natural por causa da amplitude térmica. O grau alcoólico pode ser superior a 14,5 e até 16, em alguns casos”, afirma Ezequiel, enquanto anda pelos solos “francos, arenosos e com muita pedra”, da vinícola Amanecer Andino.
“A maior particularidade dos vinhedos de altura é o sol -opina Fernando Dupont, enólogo da vinícola que leva seu nome – Em 2004, começamos a cultivar Sauvignon Blanc, Torrontés, Malbec, Syrah, Cabernet Franc, e Cabernet Sauvignon”, assegura. O vinhedo Dupont fica a 2.500 metros de altura, em Maimará, quase fronteira com Bolívia.
Para o engenheiro agrônomo Agustin Lanús, não há paixão maior que “explorar micro terroirs do Vale Calchaquí, com apenas o 2% da produção do país”. O viticultor é co-autor de uma rigorosa pesquisa sobre vinhos de altura e extrema altura: La historia de los terruños secretos de la Argentina, que escreveu junto a David Galland.
“O Malbec oferece identidade de terroir, com vinhos muito concentrados e aromas diferentes aos de Mendoza ou Cafayate” avalia o produtor da linha Sunal e dos Bad Brothers, enquanto vai mostrando as vinhas de Criolas mais antigas, plantadas em 1900/1930 , no Luracatao, em Paraje Laguadita, provincia de Salta.
De uns 1.700 metros de altura em Cafayate, a engenheira agrônoma Mariana Paez (reconhecida com uma importante premiação na cidade de Beijing) avalia que “nos tintos, o Malbec, Tannat e Cabernet Sauvignon, predominam as especiarias e notas de pimenta negra, fruta vermelha e fruta negra. Entre as brancas, a principal é Torrontes Riojano, há também Sauvignon Blanc, Chardonnay e Viognier” afirma a enóloga da Finca Quara e de Charata Wines, o seu projeto pessoal.
“O Torrontés Riojano é produto do cruzamento da uva Listán Prieto com a Moscatel de Alexandria. Se planta a pé franco e resiste muito bem ás condições do clima” conta Mariana para Vinhosargentinos, enquanto faz filmagens de vinhas antigas.
“O Torrontes se expressa com muita potencia nesta latitude, que é outro fator importante na identidade da região, com vinhos expressivos, frescos e frutados.”, assegura o viticultor Pancho Lavaque, enquanto aprecia um dos seus vinhos: Vallisto Torrontés. “Podemos representar apenas um 2% ou 3% da produção argentina, só que há muita história nestas regiões, com vinhas entre oitenta e cem anos. Há uma nova geração na região do Norte Argentino (NOA) que oferece uma visão diferente e outra frescura ao mundo do vinho” finaliza otimista.
A provincia de Salta é muito especial para Jose Lovaglio, enólogo e viticultor da vinícola Dominio del Plata. “Nasci e me criei em Cafayate, onde a minha mãe (Susana Balbo) fez seus primeiros trabalhos como enóloga e produziu um estilo de Torrontés que é um dos pilares da nossa empresa familiar, e que a partir do ano 2.000 começou a se exportar. O Torrontés brilha de uma maneira única no Norte Argentino” opina José, empreendedor da Vaglio Wines, seu projeto em Tupungato, Mendoza. Lovaglio acredita que “o Cabernet Sauvignon e o Tannat de NOA possuem um belo potencial, pelas suas notas herbáceas do Cabernet e pela intensidade no perfil de taninos obtidos nessa região selvagem”, conclui.
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