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A Geografia do vinho mendocino

18/06/2020 No Comments

Aos quatro anos, Guillermo Corona subia montanhas, explorava trilhas, cachoeiras e rios de Mendoza junto a seu pai. Percorreu o mundo trabalhando na indústria do petróleo, até que em 2014, o geofísico decidiu se demitir para voltar a sua terra natal e lançar um livro que hoje está revolucionando o cenário vitivinícola argentino. 

“Considero a obra uma das melhores investigações que temos sobre vinhos na Argentina. É uma pesquisa profunda, rica em conteúdo, didática, onde se observam dados dos solos sem precedentes até hoje” opina o renomado viticultor Edgardo del Popolo para Vinhosargentinos. 

“Guillermo (autor do Geografía do Vinho) é estudioso, curioso, inquieto. Ele apresenta paisagens, climas, infográficos, mapas, vai além da geofísica, e dessa forma recorre a geografia do Vale do Uco” afirma Edgardo, também o enólogo da Susana Balbo Wines, sobre o estudo de quarenta e quatro sub-regiões geomorfológicas descritas no livro, colocando uma lente nas origens e tipos de solos.

Segundo os especialistas consultados por Vinhosargentinos, a rigorosa pesquisa propõe informações inéditas que enriquecem o trabalho dos artesãos do vinho, apaixonados pelo cultivo de qualidade. O autor considera que, o seu livro, “brinda ferramentas para que os produtores possam conhecer melhor o local onde cultivam as suas vinhas”.

Esgotado em apenas onze meses após seu lançamento (meados de 2019), o livro que explica as diferenças geográficas e geológicas do Vale do Uco, hoje está fazendo o maior sucesso entre engenheiros agrónomos, enólogos, winemakers e sommeliers. 

“A pesquisa de Guillermo é fundamental para eu poder interpretar os vinhedos e solos da Viña Cobos, saber as diferenças geológicas das regiões, e levar tudo isso a uma taça de vinho. Este livro marca um precedente na história da viticultura argentina” considera Facundo Impagliazzo, agrônomo da vinícola Viña Cobos.

Para o viticultor Juanfa Suarez, que acaba de iniciar (em parceria com Guillermo Corona) um “estudo profundo de caracterização” em Paraje Altamira, “existe um antes e um depois deste livro. Corona é uma voz autorizada e independente” elogia Suarez. “Hoje, somos mais geólogos que enólogos” acredita Juan Pablo Michelini, um dos winemakers interessados em identificar um vinhedo e o caráter de seus vinhos.

O professor de 36 anos, nascido em Mendoza, prefere evitar a badalação. No seu Instagram, @geografiadelvino, não aparece seu nome nem seu rosto. O blog Vinhosargentinos conseguiu uma entrevista exclusiva com o pesquisador, que já trabalhou em multinacionais do petróleo na Argentina, Estados Unidos, Noruega e França, entre outros países.  

Em 2006, o geofísico iniciou, em solidão, suas primeiras pesquisas geográficas com a ajuda da sua esposa, “que me acompanhou nesta aventura. Durante quatro anos, todos os sábados e alguns domingos, eu ia pessoalmente observar escavações para depois analisar cada solo, e escrever em longas madrugadas” afirma meticuloso.

“O projeto nasceu em uma noite de churrasco, vinhos e amigos, em bate-papo descontraído com alguns enólogos que me consultavam sobre solos. Senti que havia interesse deles sobre o tema, então, lhes prometi um pequeno guia de estudo, mas com o tempo, esse guia virou livro” conta Corona, autor do livro do momento.

“O que me motivou? A curiosidade. Sou inquieto, gosto de aprender coisas novas, descobrir lugares, pessoas, culturas. Gosto de churrascos, vinhos, novos amigos. O vinho é o único elemento que te dá amigos depois dos trinta anos”, confessa bem humorado o pesquisador.   

“Me chamou a atenção os mitos sobre a amplitude térmica e outros detalhes. O estudo abarca a parte climática, que para mim, é mais importante que o solo. Com informações de mais de quarenta estações meteorológicas, consegui elaborar mapas de máximas, mínimas, amplitude térmica, soma térmica, etc. Aprendi muito de Martín Kaiser (Doña Paula), Facundo Impagliazzo (Viña Cobos), Martín Di Stéfano (Zuccardi) y Ricardo “Charly” García, entre outros agrônomos e enólogos” explica Guillermo a Vinhosargentinos, quem já está preparando uma segunda parte ampliada: “Há dezoito meses continuo pesquisando outras escavações e solos na primeira Zona. Estou capturando informações de Agrelo, Perdriel, Las Compuertas e Vistalba, entre outras regiões”.

Diego Graciano

Jornalista e sommelier.

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